Aceita um copo de água enriquecido com substâncias químicas e radioativas acima dos limites regulamentados?
Pergunta absurda? O pior é a resposta afirmativa que você, morador de São Paulo, dá, sem saber, dia após dia, por anos...
Em reportagem recente de tirar o sono (e acabar com a sede), a Repórter Brasil divulga dados muito, mas muito preocupantes. Em linhas gerais: a água à disposição nas casas de 763 cidades entre 2018 e 2020 oferecia, sim, riscos graves à saúde. Graves mesmo.
Estamos falando de problemas hormonais, no fígado, nos rins e no sistema nervoso, de mutações genéticas e até de câncer. E o quadro fica ainda mais apavorante, já que as tais substâncias são sorrateiras. Têm impacto silencioso e gradual. Ou seja, nada de sintomas por anos a fio...
Para essa constatação desesperadora, foram considerados os resultados de testes feitos por empresas ou órgãos de abastecimento e enviados ao Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde (um adendo: esses testes são realizados depois do tratamento, e grande parte dessas substâncias não pode ser extraída por filtros ou fervendo a água).
Como você já deve imaginar, a água da (pobre) Guarapiranga é destaque nessa realidade vergonhosa. Segundo a publicação, foram detectadas três substâncias acima do limite de segurança: antimônio, ácidos haloacéticos totais e trihalometanos totais.
Os últimos, aliás, excederam o limite de segurança diversas vezes ao longo dos três anos analisados. Compostos químicos derivados do metano, eles contêm substâncias como o clorofórmio, causador de problemas no fígado, nos rins e no sangue, e, ainda, classificado como possivelmente cancerígeno pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), órgão da Organização Mundial da Saúde (OMS).
O que é ruim fica pior: os trihalometanos compõem pesticidas, solventes, anestésicos e extintores de incêndio; porém, o que garante sua formação em grande quantidade na água (assim como acontece com os ácidos haloacéticos totais) é justamente o processo de tratamento!
"Subprodutos da desinfecção", já ouviu falar disso? Eles nascem quando o cloro – usado no "tratamento" da água – interage com elementos como algas, esgoto e pesticidas. Em outras palavras, eliminam-se riscos biológicos e geram-se riscos químicos.
O que a Sabesp tem a dizer? Ela alega que os resultados acima do limite são casos pontuais e não indicam problemas no padrão da água. A empresa diz ainda que faz sua avaliação por uma média móvel, mas não divulga esses dados.
Gerenciamento de resíduos da indústria, rigor na utilização de pesticidas, reformulação do processo de tratamento e, principalmente, criação de políticas públicas efetivas apontam um caminho para a solução desse problemão e podem devolver à água seu papel de direito: de vilã à aliada da saúde.
Leia a reportagem completa. Lá, você também encontra o link para acessar as respostas da Sabesp na íntegra.
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