Nossa Guarapiranga

28 de nov de 20213 min

EMAE e Sabesp se fingem de mortas, e a Guarapiranga segue agonizando

Cachorro que tem dois donos morre de fome.


 
Qual é, afinal, a mensagem, ou melhor, a lição empresarial por trás desse ditado popular? Vamos filosofar?


 
O Agente 1 pressupõe que o Agente 2 vai realizar determinada tarefa e se vê liberado de agir a respeito. O problema é que o Agente 2 pensa igual. Conclusão: atividade ignorada, esquecida, deixada de lado.


 
E convenhamos: isso se torna ainda mais verdadeiro se o tal afazer for chato, difícil de ser executado.


 
Meu caro, minha cara:


 
No contexto da Nossa Guarapiranga e dando nomes aos bois, o Agente 1 é a Empresa Metropolitana de Águas e Energia, vulgo EMAE; e o Agente 2 é a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a famosa Sabesp.


 
A EMAE – fundada em 1998, fruto da privatização da Eletropaulo – é a encarregada de controlar o volume de água não só da represa de Guarapiranga, mas também do canal Pinheiros, da Estação Elevatória da Traição e da Usina Henry Borden, ainda mantida sob controle estatal.


 
Já a Sabesp tem, há décadas, outorga para explorar a água bruta armazenada na represa. Ou seja: ela trata, distribui e vende água para praticamente metade dos moradores da cidade de São Paulo.


 
MAS (vem problema aí) a danada não coleta a maior parte dos esgotos produzidos na região. É frequente flagrarmos estações elevatórias de esgotos no entorno vertendo os esgotos coletados em córregos contribuintes da represa.


 
Esgotos – atenção, porque o que é ruim fica péssimo.


 
Invasões e ocupações irregulares no entorno da Guarapiranga só aumentam, e as consequências são desesperadoras: menos Mata Atlântica e vegetação preservando as margens; mais assoreamento (acúmulo de terra, lixo e matéria orgânica) da represa e esgotos sendo lançados na água.


 
A solução de boa parte do problema seria saneamento básico, MAS (de novo essa conjunção) a EMAE não faz isso (não tem esse dever no job description), e a Sabesp (que é especialista nisso) estaria impedida por lei de investir em esgotamento sanitário em áreas ocupadas irregularmente.


 
Como desatar esse nó?! Alô, alô, poder público! Cadê você?


 
Assuma sua função gerencial e determine as funções de cada Agente, por favor! MAS (agora virá ideia positiva, prometemos!) SEJA COERENTE.


 
Para ajudar na tomada de decisão, vamos a cinco fatos:


 
1) Apesar do nome, a EMAE tem, como atribuição fundamental, geração de energia (só lembrando que ela controla o volume de água do canal Pinheiros, da Estação Elevatória da Traição e da Usina Henry Borden). A Guarapiranga, por sua vez, não contribui em nada com geração de energia.


 
2) A Guarapiranga não contribui em nada com geração de energia para a EMAE e ainda ajuda a roubar água da Billings (em 2000, uma captação num dos braços, denominado Taquecetuba, interligou a Billings à Guarapiranga), cujo volume de água, esse, sim, serviria para gerar energia na Usina Henry Borden.


 
3) O sistema Cantareira, que fornece água bruta para a cidade de São Paulo, está sob responsabilidade da Sabesp. A Guarapiranga, que tem a mesma função, não…


 
4) A Sabesp se beneficia diretamente da Guarapiranga (trata, distribui, vende a água), mas não cuida do “cacá”. Ou seja, fecha os olhos e tampa o nariz para boa parte dos esgotos produzidos na região. (Pode isso, mãe?)


 
5) Sério que precisa falar mais?


 
Agente 1, Agente 2, chefe: tomem suas responsabilidades.


 
Sociedade civil: olho vivo! Acompanhe, monitore, cobre. Esse tema também é seu.


 
Não dá para prescindir da Guarapiranga como manancial de água. Ela precisa ser alimentada, e bem direitinho, porque morrer – seja lá do que for – não é uma opção.

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