
História da
Guarapiranga
De sua construção inicial, até sua transformação, a represa acompanhou o crescimento vertiginoso da cidade e carrega, até hoje, o desafio de equilibrar desenvolvimento urbano, preservação ambiental e qualidade de vida.
1899
A São Paulo Tramway, Light and Power Company (Light) construiu a usina hidrelétrica (UHE) de Parnahyba, hoje Edgard de Souza, em Santana do Parnaíba. A obra foi concluída em 1901, sendo a primeira hidrelétrica a abastecer a cidade de São Paulo.
1906
Em uma cidade que possuía, em 1900, aproximadamente 240 mil habitantes, a Light iniciou a construção da represa de Guarapiranga com a finalidade de regular a vazão para a UHE de Parnahyba. Concluída em 1908, a obra resultou em uma área alagada de 27 km². Seus principais tributários são o rio Embu-Guaçu e o rio Embu-Mirim — que formavam o então rio Guarapiranga — além de diversos córregos de menor porte, abrangendo áreas dos atuais municípios de São Paulo, Itapecerica da Serra e Embu-Guaçu.
1924
Quando a barragem passou por importantes reformas, finalizadas em 1928, São Paulo já possuía, em média, 580 mil habitantes, e a represa passou a ser utilizada também como manancial para o fornecimento de água potável aos municípios de Santo Amaro e São Paulo.
1925
O engenheiro Asa White Kenney Billings idealizou uma segunda represa na região com o objetivo de armazenar água para gerar energia elétrica na UHE Henry Borden, em Cubatão. Área alagada: 108 km². Os principais rios e córregos formadores da nova represa são o Rio Grande ou Jurubatuba, Ribeirão Pires, Rio Pequeno, Rio Pedra Branca, Rio Taquacetuba, Ribeirão Bororé, Ribeirão Cocaia, Ribeirão Guacuri, Córrego Grota Funda e Córrego Alvarenga.
1928
Iniciaram-se as obras de retificação do Rio Pinheiros, que perduraram até a década de 1950.
1935
O distrito de Santo Amaro, que havia sido desmembrado em 1833, foi reincorporado a São Paulo.
Década de 1940
Em 1940, São Paulo já contava com 1,3 milhão de habitantes. Nesse período, foram construídas as estações elevatórias de Pedreira e Traição, responsáveis por aumentar a vazão na usina Henry Borden por meio da reversão do curso do rio Pinheiros. O projeto foi ampliado ao longo da década e, em 1949, foi planejada a nova represa, rebatizada de Billings, destinada a receber toda a água do Alto Tietê.
1956
O primeiro grupo gerador da usina subterrânea entrou em funcionamento. Em 1950, a cidade de São Paulo já tinha 2,2 milhões de habitantes e a UHE Henry Borden se consolidava como uma obra-prima da engenharia. Seu primeiro grupo gerador havia sido inaugurado em 1926 e, até meados de 1950, já contava com oito grupos geradores movidos por pares de turbinas Pelton, que aproveitam o desnível de 720 metros e somam uma capacidade instalada de 469 MW. Além da usina externa, visível da Via Anchieta, a estrutura subterrânea complementava o sistema com seis grupos geradores, totalizando 420 MW de potência instalada. A energia fornecida, principalmente pela UHE Henry Borden, foi decisiva para impulsionar o crescimento, o desenvolvimento e a industrialização de São Paulo.
1973
Na década de 1970, São Paulo já contava com 6 milhões de habitantes. Em 1973, foi criada a Sabesp, resultado da fusão de diversas empresas e autarquias responsáveis pelo abastecimento de água e saneamento, incluindo a Comasp (Companhia Metropolitana de Águas de São Paulo), a Sanesp (Saneamento de São Paulo), a SAEC (Superintendência de Águas e Esgotos da Capital), a FESB (Fomento Estadual de Saneamento Básico), a SBS (Saneamento da Baixada Santista) e a Sanevale (Saneamento do Vale do Ribeira).
Antes da criação da Sabesp, a cidade e a região já eram atendidas por outras entidades históricas, como a CCAE (Companhia Cantareira de Água e Esgotos, 1877), a RAE (Repartição de Águas e Esgoto, 1883) e o DAE (Departamento de Águas e Esgoto, 1954), responsável por São Paulo, Guarulhos, São Caetano, Santo André e São Bernardo do Campo.
1979
Em janeiro deste ano, o ministro das Minas e Energia da época, Shigeaki Ueki, utilizou a Eletrobrás para assumir o controle acionário da Light Serviços de Eletricidade S.A., estatizando a companhia e avançando na nacionalização do setor elétrico.
Década de 1980
São Paulo já contava com 8,6 milhões de habitantes. No início da década, foi construída uma barragem que separou o braço do Rio Grande do corpo principal da represa Billings. No ano seguinte, 1981, o governo do estado de São Paulo, na gestão de Paulo Maluf, adquiriu a parte paulista da Light e criou a Eletropaulo, que durante toda a década de 1980 e início da década de 1990 se destacou como uma das maiores distribuidoras de energia elétrica do mundo.
1992
Em um momento que São Paulo já contava com 9,6 milhões de habitantes, uma resolução conjunta da Secretaria de Meio Ambiente e da então Secretaria de Energia e Saneamento, ambas do governo estadual, interrompeu o bombeamento do canal Pinheiros para a represa Billings, reduzindo em 75% a geração da UHE Henry Borden. Apesar disso, por quase 50 anos, o esgoto da região metropolitana, que era lançado no rio Tietê e no canal Pinheiros, havia contaminado tanto a represa Billings quanto o estuário de Santos.
1995
O então governador Mário Covas implementou o PED - Programa Estadual de Desestatização. Considerada grande demais para ser privatizada em um único bloco, a Eletropaulo foi dividida em quatro empresas menores: a Eletropaulo Metropolitana, privatizada em 1999, inicialmente chamada AES Eletropaulo e atualmente Enel Distribuição São Paulo, responsável pela operação de energia na cidade de São Paulo e parte da Região Metropolitana; a Empresa Bandeirante de Energia, também privatizada em 1999, posteriormente chamada EDP Bandeirante e hoje EDP São Paulo, atendendo parte da Região Metropolitana e do Vale do Paraíba e Litoral Norte; a Empresa Paulista de Transmissão de Energia, conhecida atualmente como Transmissão Paulista, privatizada em 2006; e a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE), encarregada de controlar o volume de água do canal Pinheiros, da represa de Guarapiranga, da Estação Elevatória da Traição e da Usina Henry Borden, mantida sob controle estatal, mas privatizada.
2000
Uma nova captação no braço denominado Taquacetuba passou a interligar a represa Billings à Guarapiranga. Naquele ano, São Paulo contava com 10,4 milhões de habitantes, número que cresceu para 11,2 milhões em 2010.
2019
Em 2019, quando São Paulo alcançava 12,2 milhões de habitantes, foi fundada, em 22 de março — Dia Mundial da Água — a Associação Nossa Guarapiranga (ANGua), uma entidade civil sem fins lucrativos voltada, conforme seu Estatuto Social, cujo objetivo principal é promover e preservar a represa de Guarapiranga, em especial nos aspectos ambiental, cultural, educacional e desportivo.

Desenho técnico da Usina Hidrelétrica de Parnahyba (1917). Direitos Autorais: Fundação Energia e Saneamento.

Construção da represa de Guarapiranga. Registro de 16 de dezembro de 1907.
PERÍODO DE CONSTRUÇÃO
1906-1908
CONSTRUTORA
São Paulo Tramway, Light and Power Company (Light)
ÁREA ALAGADA
27 km²
ABRANGÊNCIA TERRITORIAL
Municípios de São Paulo, Itapecerica da Serra e Embu-Guaçu

Atividades na represa de Santo Amaro na década de 1920.

Embarque em barco de recreio, com vista parcial da represa ao fundo (1948). Registro de Peter Scheier. Acervo do Instituto Moreira Sales.

Prainha. Postal editado por Foto Postal Colombo e extraído de Sampa Histórica.

Edição 87. A Tribuna, Santos, 22 jun. 1973.

Passeios de lanchas com família e amigos eram realizados com frequência aos finais de semana.

Situação atual da
Represa
São Paulo, o principal centro financeiro, corporativo e mercantil da América do Sul, a cidade mais populosa do Brasil, do continente americano, da lusofonia e de todo o hemisfério sul, não pode prescindir da Guarapiranga como manancial de água potável.

Registro por Fabio Schunck.
Na atualidade, o sistema Guarapiranga — responsável por quase metade do abastecimento de água potável de São Paulo, cidade com cerca de 12 milhões de habitantes — enfrenta uma grave crise. A expansão das ocupações irregulares em seu entorno provoca a supressão da Mata Atlântica e da vegetação ciliar, essenciais para a proteção das margens da represa. Esse processo acelera o assoreamento e contribui para o despejo de esgoto diretamente na água que abastece milhões de pessoas.
A ANGua defende que os córregos e afluentes da Guarapiranga sejam devidamente tratados, pois são eles que levam a maior parte da poluição para a represa. O tratamento dessas águas é essencial para melhorar a qualidade do manancial e garantir um abastecimento seguro e sustentável para toda a população.






