Nossa Guarapiranga

28 de out de 20213 min

“Guarapiranga 100 anos” – Temporada 2

T2.E1: aquele com a estrada e Sanson

Entre o fim da década de 1920 e o início da década de 1930, chegar à Guarapiranga era ainda penoso, mas Louis Romero Sanson corrigiu essa rota. Ele, Donald Derrom e Domício de Lacerda Pacheco e Silva criaram a Derrom-Sanson S.A, que, depois de pouco tempo, graças à injeção de capital por banqueiros e industriais, virou a Companhia Auto-Estradas S.A. (AESA).

Entre 1928 e 1932, foi estabelecida a autoestrada Washington Luís, “com piso de concreto e 16km de extensão – o pedágio ficava em local próximo à Chácara Flora”. “A nova rodovia pretendia estruturar o caminho de São Paulo em direção ao quadrante sul, onde se situavam Santo Amaro e as duas represas, a nova Billings e a velha Guarapiranga.”

T2.E2: aquele com o “bairro-jardim” de Agache

Em 1937, Alfred Agache, urbanista francês que já tinha feito bonito no Rio de Janeiro, transformou o cenário. Foi inaugurada a Cidade Satélite de Interlagos, um ‘bairro-jardim’ e balneário, com área total de 4 milhões de metros quadrados.

O empreendimento era todo dividido em zoneamentos para diferentes usos: “grandes lotes residenciais dotados de infraestrutura (água, energia, avenidas, ruas, calçadas, jardins e bosques), área reservada a atividades comerciais, um hotel e uma praia de mais de 1km de extensão, na orla da represa Guarapiranga, com areia importada de Santos”.

T2.E3: aquele da Riviera Paulista

Nas décadas de 1930 e 1940, a região da represa do Guarapiranga ganhou o apelido de Riviera Paulista. “Os finais de semana passaram das residências isoladas e do bucolismo à movimentação, com festas, veleiros, lanchas, praias nas pequenas enseadas da sua orla recortada, piqueniques na margem direita onde quase não havia construções, bares e restaurantes. (...) Nessas ocasiões, a avenida Santo Amaro enchia-se de carros, bondes e ônibus, que rumavam para a região da represa e trafegavam lotados.

A Riviera Paulista, de beleza inegável e atmosfera para lá de agradável, tornou-se fonte de inspiração constante para pintores como Ernesto de Fiori, Vittorio Gobbis, Raphael Galvez e Arcangelo Ianelli.

T2.E4: aquele em que a Guarapiranga parece ser “meio fora do mundo”

Na década de 1960, a população brasileira alcançava 70 milhões de habitantes, e São Paulo era reconhecida como a capital econômica do país. A represa do Guarapiranga se firmou como grande escola brasileira de vela. “Não mais tão distante da metrópole, ela mantinha seu cotidiano ‘meio fora do mundo’.”

T2.E5: aquele em que o problema começa

Em 1960, a ocupação na região da represa era vista como “moderada e fragmentada”'. Nas décadas seguintes, porém, com o estabelecimento de loteamentos de baixa renda bem como núcleos favelados, a situação foi se modificando até ganhar o status de alarmante: 315 mil habitantes em 1980, 548 mil em 1991, cerca de 850 mil em 2010. Aglomerações somadas à falta de infraestrutura pública básica só poderiam resultar nisto: poluição crescente dos corpos d’água.

Episódio final: aquele em que a esperança é a protagonista

“Engana-se quem imagina que a Guarapiranga é sinônimo de pura e simples degradação – bem ao contrário, sua beleza é persistente, teimosa. Incrustada na metrópole absurdamente grande, seu espelho d’água ainda impressiona pela dimensão e pela cor azul em dias claros. Suas margens estão mais preservadas do que se imagina. Nas porções sul e oeste de seu território, há glebas extensas de matas. Barcos e velas frequentam suas águas. Por vezes, tem-se mesmo a impressão de um mundo à parte; do lado oposto à confusão e ao barulho urbano, quem veleja na represa vê a cidade por um ângulo inusitado: além da barragem, uma cortina de edifícios altos; ao fundo, outra sobrevivência preciosa, lá no quadrante metropolitano norte, a Serra da Cantareira. No embate entre degradação e preservação, o futuro da represa do Guarapiranga dirá muito do que seremos capazes de construir para a própria metrópole de São Paulo nos anos que estão por vir.”

Fonte: livro “Guarapiranga 100 anos”, de Ricardo Araujo e Mariângela Solia. São Paulo, Fundação Energia e Saneamento, 2014.

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